quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Adolescente



Era um típico adolescente. Apaixonado pelas mulheres, pela vida, pelas paixões. Com ideais comunistas e utopia por um mundo melhor, mais justo, mais bonito.

A impressão que se tinha é que nunca iria crescer, ser um adulto de verdade e fazer o que o figurino manda. Ter um emprego estável, um comprovante de renda para comprar à prestação nas Casas Bahia, crescer na empresa e juntar uma economia para comprar algumas coisinhas à vista também. Se desse, claro. Por fim, ter uma aposentadoria tranquila.

Mas não! Como todo adolescente era um contestador. Queria viver de arte. Enxergava poesia até numa parede de concreto ou numa cidade fantasma. Gostava de debater ideias, filosofia,... Enfim nada que desse dinheiro! Assim iria ter que morrer trabalhando.

Aonde esse menino iria parar? Cada hora era um plano diferente. E imagino do outro lado da mesa, os adultos respeitáveis, com seus crediários em dia, estabilizados em seus empregos, profissionais experientes (fazendo a mesma coisa há anos)... E ao receber os projetos do adolescente, daria uma olhada rápida para o relógio (“Pô, ainda faltam 50 minutos para às 18h!”) e diriam:

- Meu filho, você está querendo inventar a roda, é?

E o adolescente mostraria seus traços de genialidade:

- Não! Só as curvas.

Oscar Niemeyer morreu adolescente aos 104 anos. Deixou uma vida inteira pela frente. 


7 comentários:

  1. Uma vez escrevi uma crônica, amarrada ao Esporte, para esse adolescente... O que parecia difícil, no início, foi se transformando em poesia na medida em que apreciava as imagens das curvas de Niemeyer. Depois, não faltavam palavras. Era difícil parar de exaltar. Será que antes dele seria possível conjugar concreto e poesia? Seria descabido até pensar. Por maior que fosse a abstração, como pede a Arte, ninguém imaginaria pintar ou compor com essas dimensões e noções, com tanta magnitude e excelência, harmonia e poesia. Sem parar ele criava, com inspiração de menino e humildade de gente grande.

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  2. Vinícius,
    Ele enxergava importância da poesia na nossa vida. Pessoas assim mudam o mundo. Acho que deixou a contribuição dele.

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  3. Parabéns! Bela percepção do poeta do traço que fazia poesias no concreto armado.

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  4. Alice, fico muito feliz que uma pessoa de espírito adolescente tenha gostado!

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  5. Vartan, você surpreende a cada texto... Assim como Niemeyer fez poesia do concreto (poesia concreta?), você faz a crônica-poesia no seu blog. Parabéns!
    Luis Paulo Dias

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