quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Novos Tempos

A primeira década do milênio chegou ao fim e algumas previsões não se confirmaram. São poucas as minhas esperanças de que a família Jetson se redima e apareça com aqueles carros voadores. Com isenção de IPI, então, só um milagre.

Quando vi pela primeira vez uma esteira rolante, acreditei que o futuro, como os Jetsons anunciavam, estaria próximo. Já imaginava o meu golzinho mil (que Deus e os ladrões que o levaram o tenham) alçando voo. Mas alguma coisa deu errado. Talvez por dispensar esforço, as esteiras deixaram os cientistas mais preguiçosos e a ideia do carro voador não decolou, por assim dizer.

Agora imagine o teletransporte, que acabará com a distância no mundo, com parte das emissões de CO2 e com a desculpa de chegar mais tarde em casa por causa do engarrafamento. A invenção mais esperada de todos os tempos, pelo andar da carruagem (pois é, não existem carros voadores, lembram?), deve demorar não sei quantos anos para virar realidade. Só falta isso acontecer no dia em que eu me aposentar, quando provavelmente não vou mais precisar enfrentar o trânsito. Mas por questão de honra, anotem: mesmo que subaproveitado, o teletransporte será utilizado por mim. Nem que seja para ir ao bingo.

Enquanto todos tentavam imaginar cenários fantásticos, ninguém previu os acontecimentos que realmente indicariam um novo tempo. Hoje quem fala merda no Brasil é aplaudido na Dinamarca. O craque do nosso campeonato nacional, eleito pela torcida brasileira, é um....Argentino (Conca). E a pizza se transformou em panetone.

Por falar em Brasília, Renato Russo já vinha avisando desde o século passado que o futuro não é mais como era antigamente. E se poesia é para ser entendida como quiser, eu entendo da seguinte da forma: 2001, uma odisséia no espaço passou do prazo da validade há nove anos. Não serão mais as invenções tecnológicas que ditarão o cenário do terceiro milênio. Será a natureza com suas condições climáticas. Como era no passado. Esse é o futuro.

Bem, mas tudo isso é só mais uma previsão.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Possíveis temas para a crônica da semana

1) O panetone de Arruda.

Escrever sobre a desculpa mais difícil de engolir pode dar indigestão.

2) O hexa do Flamengo, a salvação do Botafogo e o milagre do Fluminense.

A probabilidade de tudo isso acontecer era de 0,08%. A possibilidade de você ainda não ter escutado isso é de 0%.

3) A eleição de Patrícia Amorim no Flamengo. Pela primeira vez, um clube de futebol do Rio será presidido por uma mulher.

Não faço a menor idéia do que isso possa ter de tão relevante depois de Margaret Thatcher, Michelle Bachelet, Angela Merkel e, por que não?, Rosinha Garotinho que já governou (Deus sabe como) o Rio de Janeiro.

4) A enésima conferência mundial sobre as mudanças climáticas. Já deve ter até a marca no Guinness Book.

Humm... Não quero me esquentar com isso não. Não hoje.

5) As listas de fim de ano.

Já estou fazendo essa.

6) A saída fracassada de Zelaya da Embaixada Brasileira em Honduras.

Ninguém mais se lembra de quem é Zelaya. Nem eu.

7) Os cariocas porcos, segundo o prefeito Eduardo Paes.

É bem capaz de você querer jogar essa crônica no lixo.

8) As enchentes em São Paulo.

É muita tristeza. Se a gente começar a chorar, será outro aguaceiro.

9) A nova pesquisa sobre a eleição presidencial.

Não vamos dar ibope para esses institutos. Estão acertando menos do que matemáticos em campeonatos de futebol.

10) A preguiça do fim de ano.

Eureca!!! Tá escolhido!!! Termino o texto por aqui. Um abraço a todos e lembranças aos familiares.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Brasil x Israel x Palestina

Lula é um homem de ideias originais, como a de, por exemplo, copiar a política econômica do governo anterior. Mas essa de propor uma partida de futebol entre a Seleção Brasileira e um Combinado Israel/Palestina, nosso presidente fez sem pensar (Só dessa vez!). Acho que ele não imagina o risco que é este jogo diplomático.

Já que ele não imagina, imaginemos nós.

Tudo começaria pela escolha do técnico do Combinado. Seria Judeu ou palestino? Depois de muita discussão, chegariam a um acordo: não haveria um técnico, mas sim uma comissão técnica internacional, supervisionada pela ONU.

A convocação do Selecionado Israel/Palestina seria outra grande negociação. Negociação mesmo. Como o jogo despertaria a atenção mundial, uma grande empresa de Nova Iorque patrocinaria o evento, mas sob uma condição: o Combinado teria que ser formado por 6 judeus e 5 palestinos.
Os palestinos, é claro, protestariam. Alguns seriam radicais e acusariam os EUA de querer, aos poucos, expulsar o seu povo do Combinado e transformar o time apenas na Seleção de Israel.

Mas Lula é o cara. Ele resolve o problema de forma simples. As seleções iam entrar em campo com apenas 10 jogadores. Para convencer Dunga foi fácil: “É só tirar o Gilberto Silva que ninguém vai notar”. Difícil foi fazer o presidente da empresa americana, que tinha um grande número de acionistas judeus, desistir da ideia de jogar com 6 israelenses e 4 palestinos. Foi preciso a apresentação de um slide do pessoal do marketing, informando que a medida poderia manchar a imagem da empresa. 5 palestinos e 5 judeus seriam algo mais rentável. Afinal, é preciso atingir também o mercado palestino. Qual judeu quer perder negócio?

Outras confusões menores aconteceriam, mas seriam, facilmente, contornáveis. Como a oração que os jogadores fazem antes de entrar em campo. Lula persuadiria divinamente os atletas do Combinado a conversarem com Alá ou Jeová em particular. É mais íntimo.

A imprensa também receberia recomendações da ONU para evitar certas expressões. O locutor Sílvio Luiz teria sua frase “Pelas barbas do profeta” censurada. Já o narrador que dissesse “Olha a bomba”, no momento de um chute, no fim do jogo, teria que explicar melhor o que realmente viu naquele exato momento.

Entre as duas seleções, o único problema seria na hora do cara e coroa. O Brasil ganha na moeda, mas os palestinos querem jogar no lado do campo que aponta para a direção de Meca. Como Dunga não tem o costume de ser agradável, o Brasil se nega a mudar de lado. Até que surge um cartola brasileiro. Ele conversa com o adversário, sai com a moeda do cara e coroa no bolso e com a ordem para o Brasil jogar do outro lado.

No jogo, surge a maior de todas as questões. Os jogadores israelenses afirmam que a grande área é um território sagrado dos judeus e não deixam os palestinos entrarem. Argumentam que há, inclusive, indícios de que alguns dos jogadores palestinos (não todos!) teriam o interesse de fazer gol contra, apenas para prejudicar a defesa que é toda formada por israelenses. O ataque é de palestinos. Bem, essa era a escalação no papel, porque neste jogo ninguém nunca soube dizer, de verdade, quem ataca e quem defende.

Enquanto a comissão técnica internacional se reunia para decidir como resolver aquele impasse da grande área, Adriano seguia fazendo gols e, nas comemorações, homenageava a Vila Cruzeiro.

No fim partida, de um lado, o patrocinador vibrava com a alta das ações da empresa, após o evento. Do outro, palestinos e israelenses trocavam acusações pela derrota. Para por fim àquele mal-estar, Lula conversou com o artilheiro brasileiro e teve outra ideia: um churrasquinho na laje do Adriano, lá na Vila Cruzeiro, para confraternização. Lula só iria buscar a Dilma para apresentá-la aos moradores como mentora do PAC (Pela Animação do Churrasco).

E assim, quando desse um intervalinho no pagode, judeus e palestinos iriam olhar a favela carioca e se perguntar: o que é pior? Quando a terra é de ninguém ou quando a terra é de todo mundo?

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Nossos tantos muros

O tempo, quase sempre, é irônico. Quem imaginava que quando Pedro Bial apareceu, em 89, em frente ao Muro de Berlim, estaria cobrindo o primeiro de seus muitos paredões? O fim do comunismo estava sendo celebrado pelo futuro senhor “Big Brother”, expressão que, na verdade, surgiu no romance 1984, de George Orwell, para designar o ditador que promovia o excesso de vigilância do Estado.

Ora, nada é tão controlador como o Estado comunista. E nada é tão redentor como ver o fim deste controle ser noticiado por alguém que comandaria os Big Brothers. Mesmo que seja de forma metafórica.

Eu não sei se em uma das tantas noites de eliminação do Big Brother, o Bial, com sua impostação poética e charmosa, já fez alguma referência ao Muro de Berlim. Mas o fato é que o reality show da TV Globo tem pontos em comum com aquele momento histórico. Bem, e se não tiver, eu forço a barra para que tenha e salvo meu texto.

Ao ultrapassar os muros da casa, temos o impulso de dividir os participantes em duas turmas. Geralmente, o grupo do bem e o do mal. Sempre é difícil julgar quem pertence a cada categoria. Já o Muro de Berlim dividia, simplesmente, o mundo entre dois sistemas. Agora, pensemos numa casa onde, de um lado, estariam Stalin e Fidel, calando e fuzilando seus adversários. Do outro, Kennedy e Bush, patrocinando golpes, produzindo terroristas, promovendo guerras e fomentando a indústria bélica. Qual seria a turma do bem e a turma do mal? Quem você gostaria de eliminar? Ligue, participe!

Outro ponto é a assistência que a produção do Big Brother fornece aos participantes. Do lado de dentro do muro, eles têm direito a alimentação, segurança, conforto etc. Em troca, perde-se a liberdade. Dizem que em Berlim Oriental era assim. O cidadão tinha direito a educação, saúde e emprego (conforto já era demais. Isso é coisa de capitalista!). Mas se quisesse dar aquela espiadinha do outro lado, era eliminado. Fuzilado mesmo no paredão.

Os muros do Projac e de Berlim me dão a sensação de que o ser humano aceita se confinar numa casa em busca de seu sonho. Seja o sonho de um milhão de reais ou dos 15 minutos de fama. Mas não se confina numa cidade em troca da garantia de necessidades básicas. Assim, torna-se capaz de destruir muros reais ou imaginários para ir atrás de seus desejos, nem que seja a promoção nº1 do McDonald´s.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Significados insignificantes

(Baseado em uma história real. Tenho testemunhas.)

Por muito tempo eu fiquei indeciso em escrever esta crônica. Não, o texto não tem nada de bombástico, revelador. São apenas as pérolas de um amigo que tem o dom, se assim podemos dizer, de trocar os significados das palavras. Ele, inclusive, tem uma gramática boa e até usa as prepotentes mesóclises, mas tem uma incompatibilidade com o dicionário...

A dúvida em fazer o texto era a seguinte: eu correria o risco de as pessoas rirem dele e não da história. Por isso, omito o nome do meu amigo. Até porque ele é botafoguense e já vem aguentando gozações demais. E para falar a verdade, acho injustas todas as críticas a seu vocabulário. Porque, no fundo, acredito que ele esteja certo e os dicionários, errados. Amigo da gente sempre tem razão.

Veja se não faria mais sentido se a língua portuguesa se rendesse a ele:

- Vartan, era uma festança daquelas. Mas, de repente, deu um holocausto e apagou tudo.

Não sei por que “holocausto” tem o significado que tem em português. Funcionaria muito melhor se fosse a tradução de blackout. Sua sonoridade faz todo sentido. As duas primeiras sílabas transmitem uma pronúncia linear (ho-lo), tudo vai muito bem. A terceira (caus) dá a sensação de uma explosãozinha, talvez o transformador da esquina. Em seguida, um fonema seco (to). Pronto! Apagou tudo.

Não, não apaguem o texto da sua tela. Eu tenho argumentos melhores a favor dele.

Num passeio de escuna em Paraty, ele aconselhou um amigo que não sabia nadar.

- Márcio, tome cuidado. O mar é imprescindível!

Márcio, coitado, não entendeu o recado. Se não fossem os guarda-vidas... Depois de receber uma respiração boca a boca do sargento Serjão, Márcio quis culpar meu amigo. Ele desconhecia o fundamento histórico deste conselho. Afinal, no século XV, os ibéricos já diziam que o mar era imprescindível. Só mais tarde, ao errar o caminho para Índias e parar no Brasil, Cabral soltou a frase lusitana: “O mar é imprevisível”.

Foi nesse passeio, inclusive, que ele revelou o motivo de ter deixado a namorada:

- Ah, a gente não estava se coagulando muito bem.

Seja o que for que ele quis dizer, eu entendi perfeitamente porque eles se separaram.

Aliás, algumas palavras em português não merecem o peso que têm. Por exemplo: defenestrar quer dizer somente “atirar algo pela janela”. Ora, pela sonoridade, defenestrar deveria ser uma catástrofe ou, no mínimo, um desastre.

Suplente é outra palavra que, pela sua aparência pomposa, dá a impressão de ser muito mais do que significa:

- Ninguém te atendeu??? Chamarei o suplente.

Falando assim, parece que vem alguém de uma instância superior para resolver todos os problemas: capaz de promover a justiça social, lutar pela paz entre as nações e exigir o fim dos alimentos que contém glutém. Ele é o SUPLENTE! Mas quem chega é um mero substituto da atendente.

E pernóstico? Toda vez que escuto esta palavra parece que estamos falando de um criminoso, daqueles capazes de atrocidades. E mesmo quando me lembram que a palavra é só um adjetivo geralmente usado para quem fala com suposta propriedade de um assunto que não tem muita ideia, ainda assim tenho medo dos pernósticos.
Que esses tais pernósticos não comentem esse texto, como fazem com as frases do meu amigo. Deus me livre

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Os cinéfilos

Ele queria muito que sua vida fosse um musical. Daqueles de superprodução. Acreditava que seu nome, Tom, não era simplesmente um nome. Era uma predestinação. Os amigos diziam que isso era coisa de viado. Então, ele aproveitava para comprovar sua vocação e emendava a primeira estrofe: “Telma, eu não sou gay...”. Saía rodopiando e pedia que os amigos completassem a coreografia. Os amigos, é claro, não faziam nada disso. Ninguém queria ser coadjuvante.

Já Marcinha era uma sonhadora. Desejava viver uma comédia romântica. Eram feitos um para outro. E assim podemos dizer que a única coisa que faltava para eles se conhecerem era uma cantada. Mas como estamos falando de Tom, não faltava mais. Marcinha se apaixonou como uma mocinha de sessão da tarde, quando Tom roubou o microfone no barzinho e, olhando nos olhos dela, cantou “Andança” (“por onde for, quero ser seu par...”). Tudo ao seu redor parecia estar em câmera lenta, menos os outros frequentadores que não prestaram atenção naquela cena, porque reclamavam do garçom, que não prestou atenção nos pedidos.

Mas musicalzinho e comédia romântica não fazem o gênero desta coluna. Por isso escrevo para este roteiro uma nova personagem: Neusa, a amante de Tom. Uma mulher que só gostava de aventuras. Ela adorava protagonizar cenas eróticas com o Tom cantando ao seu ouvido Elymar Santos. “E mexe, remexe, se encosta, se enrola...”

O problema todo é que o Nestor, marido da Neusa, era fissurado em filmes policiais. Desconfiado da esposa, contratou um detetive particular. Tom ficou preocupado e tentou convencer o amigo do contrário: “Polícia para quem precisa, polícia pra quem precisa de polícia”. Mas Nestor disse que detestava suspenses e que, se a traição fosse confirmada, iria colocar em prática seu gênero suplente: o TERROR!

Luz, câmera, ação e fechem os olhos, pois a cena do Nestor estrangulando o amigo é muito forte. Sem ar e sabendo que a morte estava chegando, só deu tempo de Tom, enquanto morria, tossir no ritmo do tema de Psicose. Seu “the end” teria que ser em grande estilo.

No velório, houve quem escutasse um assobio da marcha fúnebre vindo de dentro do caixão. Nada foi provado.

Marcinha chorou, mas não muito. Logo estava casada com um documentarista, que não tinha o mesmo repertório romântico de Tom, mas, enfim, era um relacionamento baseado em fatos reais.

Tudo isso é ficção, é óbvio. Menos a parte que Tom roubou o microfone no barzinho. O que viria a seguir só não se tornou verdade porque, enquanto ele cantava “Andança”, Marcinha estava reclamando com o garçom o pedido que veio errado. E convenhamos: a música estava atrapalhando a conversa.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Que país é esse?

A crise em Honduras fez revelar uma estatística interessante: Como há gente no Brasil especializada em política hondurenha, hein! E essas pessoas devem ter um nível de formação invejável. Elas são capazes de dominar a ciência da lógica ou ignorá-la, o que é mais difícil ainda. Porque em Honduras acontece tudo, menos o óbvio.

Por exemplo, fim da década de 60: o país entra em guerra contra El Salvador devido a uma partida de futebol. Guerra mesmo. Se um jogo entre Honduras e El Salvador causa tudo isso, não quero nem imaginar o que pode acontecer se um dia Vasco e Flamengo jogarem por lá.

40 anos depois o inusitado ainda habita o país. O presidente Manuel Zelaya foi deposto do poder após tentar um mecanismo para aprovar a reeleição. Ele poderia muito bem ter conversado com FHC para ser bem-sucedido na manobra. Mas enfim, não conversou e deu no que deu: quis começar um segundo mandato e não terminou o primeiro.

Com o aval do judiciário, Roberto Micheletti tomou o poder afirmando ter a garantia da constituição. Depois, suspendeu várias garantias constitucionais, além de fechar rádios e TVs. Ou seja, em Honduras, cortaram a liberdade de expressão em nome da democracia. É ou não é um país confuso?

Confuso e místico. Ninguém até agora explicou como Zelaya e seus sessenta seguidores se materializaram na Embaixada Brasileira. Nem o Presidente Lula sabe. Eu acredito nele. Lula tem se mostrado coerente com sua filosofia socrática. “Eu só sei que nada sei”.

Talvez Zelaya e sua turma tenham se disfarçado de entregadores de pizza e como a Embaixada é território brasileiro, ninguém se espantou com a quantidade de pizza que chegava. Mandaram entrar. Agora o problema é a saída à francesa. Com aquele chapéu, impossível.

Bem, esse texto vai ficar uma semana no ar. Período suficiente para ele ficar velho de uma hora para outra. Mas, em se tratando de Honduras... Sei não. Lá é tudo muito complicado. Afinal, um país que coloca o nome da sua capital de Tegucigalpa quer, no mínimo, causar confusão.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O Devoradô de Letras

Tudo começou quando disseram que ele precisava alimentar mais a sua alma. Poderia, por exemplo, devorar alguns clássicos da literatura. Talvez, por falta de leitura mesmo, entendeu o recado no sentido tão literal da coisa que logo já estava comendo as suas primeiras letrinhas. Definitivamente, queria se tornar um homem letrado. Nem o próprio nome (Maurício Sardinha) conseguia pronunciar sem engolir um errezinho ou arrotar uma cedilhazinha:
- Prazê, Mauriço Sadinha.
- Meu filho, pare com isso. Pode prejudicar a sua saúde. Por que não come alguma coisa normal como todo mundo?
- Pai, nem só de pão vive o home, mas também da palavra. Por falá nisso, mãe, sobrou um poquinho da sopa de letrinhas?

O pai ia à loucura. A mãe tentava acalmá-lo.
- Esses jovens de hoje só comem bobagem mesmo. Isso passa.

Mas não passou. E a história que foi se desenrolando daria um livro, neste caso, uma crônica. Mauriço começou a levar o novo hábito de alimentação a sério. Ingeriu uma quantidade tão grande de letras, que estava com dificuldades de expelir algumas. Como o W, por exemplo. O H, por motivos óbvios, também lhe causava prisão de ventre.

Era preciso desgastar todo aquele dicionário no estômago. Foi malhar na Academia Brasileira de Letras. Vivia tomando aquele chazinho cheio de circunflexos anabolizantes e tremas proibidas, sonhando em se tornar imortal.

A má influência da turma da academia fez Mauriço exagerar. Passou a adorar qualquer discussão apenas para engolir seco o que o outro dizia. Só mesmo a namorada para fazê-lo soltar uma palavra doce.
- Bombom, vamos jantar fora? Tem um rodízio ótimo no Flamengo chamado Estação das Letras.
- Maurício, tá louco! Isso é uma livraria!!!

Depois de muito custo, aceitou a sugestão sensata e foram para um restaurante japonês. Foi um vexame. Mauriço comeu o menu.
- Desculpe, mas ideograma é muita tentação!

Tiveram que parar de sair. Em casa, Mauriço passou a viver com uma palavra cruzada na mão. O que para ele equivalia a um livro de receitas. Cada vez mais faminto, ele chegou a comer o pingente de letra M do próprio cordão. O que novamente causou prisão de ventre. Afinal, o M dentro do organismo agia da mesma forma que o W.

Foi obrigado a se tratar. E escutou duas coisas do médico: primeiro, a bronca por ter engolido toda a receita. Depois, as recomendações. Dieta rigorosa. Nada de romances, nem teses científicas. No máximo, um conto, porque a situação era crônica. Outra coisa: nada de papas na língua. O que havia dentro dele, tinha que ser posto para fora com todas as letras.
Naquele mesmo dia, ao chegar atrasado ao trabalho, por justamente ter ido à consulta, ouviu uma série de palavras indigestas do chefe. E Mauriço começou o tratamento. Soltou o verbo, o sujeito, o predicado e até um ou outro adjunto adverbial de lugar impróprio, que eu só posso traduzir como “naquele lugar”. No fim, ainda disparou um Y que foi rodopiando e passou raspando a cabeça do chefe.

Mauriço, é claro, está desempregado. Para saber melhor como aplicar o dinheiro do Fundo de Garantia, ele passa o dia fazendo contas. Pelo jeito diferente que ele olha os números... Parece que será difícil resistir.
*texto publicado também em O Desenfado
www.o-desenfado.blogspot.com/

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Fênix está na moda

Não sei se vocês repararam, mas de uns tempos pra cá, o mundo vive um período de ressurgimento. Menos a minha inspiração que não consegue encontrar uma maneira menos cretina de começar o texto. Bem, torço para que ela também acompanhe os novos tempos e ressurja nas próximas linhas. Que a sorte esteja comigo. Aos leitores de fé, segue a redação.

O fato mais emblemático desse período se chama Rubinho Barrichello. No meu texto, ele aparece sim em primeiro (embora um parágrafo já o tenha ultrapassado, mas não vamos levar isso em conta, ok?). Ele é o melhor exemplo de que o tempo premia aquele que corre atrás (sem gracinhas, por favor. Vocês entenderam o que eu quis dizer).

No início do ano, Rubinho ainda entregava currículo e todos apostavam que ele ficaria a pé. Meses depois, o panorama é outro:
1º - Ele está em uma das melhores equipes da fórmula 1. Equipe essa que por pouco não participa da temporada. Surgiu aos 45 do segundo tempo das cinzas da Honda;

2º - Pela primeira vez na carreira, Rubinho tem a chance real de vencer um campeonato.

Para completar a situação simbólica, seu principal oponente é o outro piloto do time, Jenson Button, também dado como aposentado. Ou seja, as circunstâncias são perfeitas para assistir a uma corrida dos carros da Brawn GP e soltar o comentário candidato a piada: “Eles fizeram a melhor volta dos que não foram”. Não sei como Galvão Bueno ainda se conteve. Por incrível que pareça, talvez ele tenha um senso crítico melhor do que o meu.

No futebol, não vou falar de Ronaldo, pois aí seria “A volta dos que não foram nº 132”. Mas e o Petkovic, hein? Quem esperava que ele fosse jogar o que está jogando? Não, não vale a opinião dos otimistas fanáticos! Esses acertaram, inclusive, que Romário entraria novamente em campo. Nesse caso é “A volta de quem, pelo jeito, nunca vai”.

Quando o reaparecimento não é espontâneo, a lógica prevalece e a coisa fica meio artificial. O programa Fantástico, por exemplo, foi buscar lá no Uruguai, o cantor Belchior. Até aí, tudo bem... Mas tinha que trazer o Silvinho Ursinho Blau Blau de Brinquedo? Se o Beto Barbosa ressurgir, vou começar a acreditar num complô da Globo para nos deixar no limite.

Na política, já passamos do limite. Sarney parece imortal. Aliás, quem teve a “genial” ideia de dar esse título pra ele? Com seus poderes secretos, ele protagonizou no Senado “A volta de quem (mas por que será?, Meu Deus, me responda) não foi”. E assim descobrimos que algumas questões não são tão irrevogáveis assim.

É por tudo isso que eu ainda tenho esperança no Fluminense. Só não tenho mais inspiração.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Hipocondríacos

Um dos mais complicados sintomas da gripe suína é o aparecimento em massa dos hipocondríacos, esses profetas com especialidade em doença. E o que torna difícil combatê-los é o pressuposto equivocado de que eles têm medo de ficar doente. Os hipocondríacos torcem para a doença. Como qualquer outro profeta, eles querem que suas previsões, por mais nefastas que sejam, se concretizem. Só pelo simples prazer de pronunciar a frase redentora: “Eu avisei”.

Graças (?) a um tio, diagnostiquei a farsa hipocondríaca cedo. Devia ter uns 10, 12 anos. Havia acabado de jogar futebol e fui pegar água. Um fato corriqueiro? Não para o hipocondríaco. Eles atacam quando a gente menos espera.

- Não abra a geladeira suado desse jeito, menino! Pode pegar um resfriado, que vira uma gripe, que se transforma numa pneumonia e depois, ai meu Deus, numa tuberculose.

Perdi a sede. Mas fiz gargarejo com a água gelada só para provocar. A partir desse dia, meu tio vibra até hoje quando dou um espirrozinho.

É o tipo de gente que se mostra amiga para, em seguida, te humilhar. Já experimentou dizer que está com dor de cabeça perto de um deles?

- Tenho analgésicos aqui. Alguns. Alguns não! Muitos.
- Você me arruma um dorflex?
- Tem certeza? Isso comigo não faz nem cosquinha... Mas já que você prefere...Tá aqui ó.

E assim você fica se sentindo um frouxo, achando que aquela sua dor de cabeça é só frescura, porque o sujeito, coitado, sofre de crises e crises de enxaqueca.... e que a sua dor...ah, a sua dor deveria ser mais forte ainda. Até você se dar conta da armadilha. Se o dorflex não serve pra ele, por que então carrega um na bolsa? Isso mesmo. Apenas para te rebaixar!

Temos que identificar os hipocondríacos! Eles parecem ter um olhar superior (dizem que é o efeito benéfico do glaucoma e por isso são os únicos capazes de enxergar os inimigos que nos ameaçam, como micróbios e vírus). Tive uma namorada que todas as vezes que nos beijávamos, ela lembrava que havíamos trocados 250 bactérias. Não preciso dizer que a noite de sexo foi um fracasso. Bem... Foi mais saudável assim.

Para ficarmos vacinados contra eles, deixo a minha contribuição: um perfil de um dos maiores hipocondríacos do Brasil. Por e-mail (ele achou melhor nessa época de gripe suína evitar o contato), ele revelou algumas de suas preferências que nos ajudam entender como pensam.

Nome: Thomas Chagas
Profissão: médico ama-dor
O que lê no momento? A bula do Tamiflu.
Melhor filme: Nenhuma produção ainda superou Psicose.
Pior filme: Cantando na Chuva. Chega a dar arrepios.
Música: O pulso, dos titãs. Uma obra-prima.
Local preferido para fazer amor? Uma maca
O que costuma falar depois do sexo? Foi ótimo! Chegou a me dar taquicardia.
Signo: Câncer
Animal de estimação: Condor
Cor preferida: Amarelo (pálido)
Vício: Álcool (em gel). Estou consumindo sem moderação.
Time de futebol: Agora sou porco! Palmeirense doente!
Uma frase: “É melhor prevenir. Mas remediar também tem as suas vantagens”

***
Pode ser impressão minha, mas depois que recebi o e-mail dele com as respostas, não é que meu computador ficou meio esquisito. Será que entrou vírus?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Quadrilha

Para dar um pouco de estética à temporada feia em que estamos passando, segue um momento poético.

Senhoras e senhores, com vocês uma releitura do poema Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade:

Calheiros abandonou Collor,
Que maldizia Sarney,
Que nunca foi companheiro de Lula.
Que perseguia os 300 picaretas,
Que adoravam messalinas* e mensalões,
Que eram bancados pelo governo,
Que tinham campanhas financiadas pelos banqueiros,
Que amavam a política econômica do PSDB,
Que era exorcizada pelo PT

*
*
*

20 anos depois:


O PT imitou a política econômica do PSDB,
E agora é amado pelos banqueiros,
Que financiam campanhas para o governo
Que bancam messalinas e mensalões,
Que são adorados pelos 300 picaretas,
Que são protegidos por Lula,
Que é companheiro de Sarney,
Que tem o apoio de Collor,
Que recebe a ajuda de Calheiros


A única coisa que consigo entender desse poema é o título: Quadrilha.

***

Nota: De acordo com minhas profundas pesquisas (leia-se: Wikipedia), Valéria Messalina, mulher que deu origem a expressão, era filha de um aristocrata chamado Marco Valério. Nunca foi tão fácil ligar o nome à pessoa.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ditos populares - um desabafo

Quero saber quem deu aos ditos populares o poder de sentença final. Com eles, ninguém precisa mais se dar ao trabalho interpretar um fato, argumentar e contrapor de forma razoável. Basta dizer uma dessas frases feitas e... Pronto: questão resolvida.

Marido: “Amor, por que está chateada comigo?”
Esposa: “Para bom entendedor, meia palavra basta”

Resultado: ela venceu a discussão e você vai se sentir culpado até a menstruação dela descer.

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Para reforçar a tese, alguns creditam a frase à memória de alguém:

Neto saudoso: “Como dizia meu falecido avô: ‘cão que ladra não morde’”.

Como se apenas o avô dele falasse isso. Dessa situação, tiro duas conclusões. Esse senhor passou a vida inteira sem ser mordido por um cachorro e sem saber o que estava dizendo. Eu já foi mordido três vezes e garanto: os cachorros latem antes de morder. É verdade.

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Em Brasília, essas frases se proliferam tanto quanto funcionário no Senado. Quando tudo parece contra seus atos, sejam eles secretos ou escancarados, os políticos se defendem como se os ditos fizessem parte da constituição.

Senador cara-de-pau: “As aparências enganam”

Depois, ao pedir que se esclareça o nosso suposto engano, vem o arremate:

O mesmo senador cara-de-pau: “A fala é de prata e o silêncio é de ouro”

E como eles gostam de ouro, vocês imaginem o tamanho do silêncio.

Dizem que a última frase que se escutou por lá foi a resposta de José Sarney sobre a contratação do namorado da neta:

- A família é a base da sociedade.

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Na verdade, eu só queria olhar para a posição do Fluminense na tabela do campeonato e acreditar em apenas um desses ditos populares. “Os últimos serão os primeiros”. Mas tá difícil.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mercado Gay dá...Dinheiro

Bagé – RS.

“Simonal - ninguém sabe o duro que dei”. O título do documentário deixa claro: os marqueteiros levam o maior jeitão para conquistar universo gay, um mercado com excelente poder de compra.

E a produção audiovisual foi mesmo o primeiro setor a abrir o olho para potência desses clientes. Afinal quem não se lembra da novela “O espigão”, que se introduziu no mundo arco-íris e possibilitou o sucesso da “Roda de Fogo”?

Anos mais tarde (a grafia está certa: escrevemos “anos” mesmo), outra novela “Olho no olho” atingiu um ponto até então pouco explorado no mercado: as lésbicas.

O poder de consumo dos gays chamou tanta a atenção que o cinema americano lançou “11 homens e um segredo”. O negócio foi crescendo, crescendo... Virou “12 homens” e agora já são “13 homens e um segredo”. Resultado: Hollywood encheu o rabo de dinheiro.

Inspirados no “Senhor dos Anéis”, os japoneses também decidiram entrara na roda gay. A primeira experiência foi uma versão de “O espigão”, lá intitulada de “8 mm”.

De acordo com as pesquisas, o que vem atrapalhando um pouco o sucesso desses produtos é o preconceito de muitos. Por isso, os patrocinadores adotaram uma nova posição. A cerveja Nova Schin, por exemplo, lançou mundialmente sua campanha “Experimenta!”.

Só que como dizem os filósofos da economia num incrível raciocínio lógico: mercado é mercado. Ao perceberem que os preconceituosos também consomem, a cerveja Cintra lançou seu slogan homofóbico: “Chega de frescura!”. Só que muita gente continua tomando o redondo.

*texto publicado em O Desenfado (http://www.o-desenfado.blogspot.com/)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Teorias da conspiração

Sou um admirador das teorias conspiratórias. Até hoje, torço para que o homem não tenha ido à lua e que tudo tenha sido uma produção de Hollywood, bancada pelo governo americano. Seria (ou é) tão fantástico quanto à viagem. Algo inacreditável. Mas continuo torcendo por esta teoria, digamos, lunática. Gosto dessas coisas impossíveis. Torço para o Fluminense.

A última grande teoria da conspiração veio com a morte de Michael Jackson. Dizem que o tema do próximo álbum do cantor seria algo como morte e ressurreição. Então, tudo seria uma jogada de marketing e, no meio do seu velório, o Rei do pop se levantaria e faria o show de lançamento.

Há argumentos: houve ingressos para o velório. O funeral em Los Angeles era uma exigência de Hollywood, preocupada com a logística e disposta a bancar a superprodução do clipe. Parece também que, pouco antes do anúncio da morte, ele havia acertado os últimos detalhes da coreografia. Tudo pronto para um show daqueles.
Seria incrível. Momentos antes do enterro, Michael se levantaria e, atrás dele, um grupo de bailarinos vestidos de coveiros, num espetáculo para desbancar Thriller.

Já houve, inclusive, boatos de que haveria um encontro entre Reis. Quando o Rei do Pop começasse a cantar “Who´s bad?”, entraria o Rei Roberto Carlos cantando “Eu sou terrível”, numa ação em conjunto para divulgar também os 50 anos de carreira do brasileiro. Ainda no script, eles trocariam cumprimentos, enquanto astro do pop teria que olhar para a segunda câmera de esquerda para direita e dizer: “Roberto, eu morreria se você não aceitasse o convite”. Os bailarinos coveiros iam rir e apresentar mais um passo da nova dança. Tudo ensaiado. Em seguida, Roberto Carlos, como sempre elegante, dedicaria uma canção para Michael: “Além do horizonte, existe um lugar bonito e tranquilo...” Ao fundo, no telão, as imagens indicam o lugar: Neverland.

Não sei, mas estou começado a achar que Roberto não aceitou o convite.