sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Um brinde ao engov


Estava eu possivelmente sendo invejado até pelo Cauã Reymond. Sete mulheres ao meu lado naquela mesa. Rolava um papo-cabeça sobre causas progressistas. Mostrei apoio e para impressioná-las, cite expressões da moda como “empoderamento feminino”. Mas quando Andrea chamou o garçom...

- Fabinhooooo, meu amor! Mais uma rodada que estamos com sede.

Meu machismo acordou sem bocejar. Como aquelas mulheres aguentavam mais bebida do que eu? Meu estômago já estava encharcado, mas jamais iria confessar. Pensei em dizer que havia lembrado de um compromisso urgente. Não podia. Minha mulher estava junto. Claro que Raquel iria pedir explicações sobre esse tal compromisso.

Sim, estava disposto a entregar parte de meu fígado para salvar meu casamento.  Seria uma linda prova de amor. Mas isso também seria uma prova de machismo. Eis o dilema: beber ou não beber?

Fiz como Bill Clinton, brindei, mas não bebi. Botei o copo na mesa e então.... Veio a ideia “genial”.
- E a cultura do álcool, hein?

- Vartan!!!! Estamos falando sobre a cultura do estupro – esclareceu Débora, uma militante feminista do universo acadêmico.

- Eu sei. Mas esse debate comportamental está além do universo homem x mulher...

- Ah... Lá vem Vartan e suas teorias... É melhor pedir vodka! – recomendou Beta, com a paciência típica de uma TPM.

 Suei frio com a possibilidade.

- Vou me explicar melhor. Nada contra a bebida e nem ao fato de alguém querer ficar bêbado, ok? A cultura que digo é a competitividade disfarçada entre os consumidores. Parece que o fígado mais resistente recebe o troféu de companhia campeã. E isso é uma mentira! Noventa por cento dos bêbados ficam sem noção e te dão trabalho no fim da noite.      

 - Isso é verdade. E você está dentro desses noventa por cento! – disse Raquel com uma sinceridade que não ajudava nada.

Fingi que não escutei. Cauã Reymond já não me invejava mais.

- Queria entender qual a vantagem de contar na segunda que quatro caixas de cerveja foram embora num domingo. E mais: queria saber por que as pessoas são admiradas por isso.  Estudos....
- E aíííí? Mais uma rodada, pessoal?

Antes que alguém respondesse o garçom, já emendei o assunto.

- Estudos indicam que essa obsessão pela quantidade que se é capaz de beber não passa de uma busca pela aceitação grupal. O homem que bebe pouco é visto como frágil, menos másculo, que é uma cultura machista alimentada também por muitas mulheres. Louvado seja o engov que....

Fui interrompido por um burburinho:

- Ele já bebeu demais. Melhor pedir a conta!

- Fabinhoooo, a saideira!