segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Hipocondríacos

Um dos mais complicados sintomas da gripe suína é o aparecimento em massa dos hipocondríacos, esses profetas com especialidade em doença. E o que torna difícil combatê-los é o pressuposto equivocado de que eles têm medo de ficar doente. Os hipocondríacos torcem para a doença. Como qualquer outro profeta, eles querem que suas previsões, por mais nefastas que sejam, se concretizem. Só pelo simples prazer de pronunciar a frase redentora: “Eu avisei”.

Graças (?) a um tio, diagnostiquei a farsa hipocondríaca cedo. Devia ter uns 10, 12 anos. Havia acabado de jogar futebol e fui pegar água. Um fato corriqueiro? Não para o hipocondríaco. Eles atacam quando a gente menos espera.

- Não abra a geladeira suado desse jeito, menino! Pode pegar um resfriado, que vira uma gripe, que se transforma numa pneumonia e depois, ai meu Deus, numa tuberculose.

Perdi a sede. Mas fiz gargarejo com a água gelada só para provocar. A partir desse dia, meu tio vibra até hoje quando dou um espirrozinho.

É o tipo de gente que se mostra amiga para, em seguida, te humilhar. Já experimentou dizer que está com dor de cabeça perto de um deles?

- Tenho analgésicos aqui. Alguns. Alguns não! Muitos.
- Você me arruma um dorflex?
- Tem certeza? Isso comigo não faz nem cosquinha... Mas já que você prefere...Tá aqui ó.

E assim você fica se sentindo um frouxo, achando que aquela sua dor de cabeça é só frescura, porque o sujeito, coitado, sofre de crises e crises de enxaqueca.... e que a sua dor...ah, a sua dor deveria ser mais forte ainda. Até você se dar conta da armadilha. Se o dorflex não serve pra ele, por que então carrega um na bolsa? Isso mesmo. Apenas para te rebaixar!

Temos que identificar os hipocondríacos! Eles parecem ter um olhar superior (dizem que é o efeito benéfico do glaucoma e por isso são os únicos capazes de enxergar os inimigos que nos ameaçam, como micróbios e vírus). Tive uma namorada que todas as vezes que nos beijávamos, ela lembrava que havíamos trocados 250 bactérias. Não preciso dizer que a noite de sexo foi um fracasso. Bem... Foi mais saudável assim.

Para ficarmos vacinados contra eles, deixo a minha contribuição: um perfil de um dos maiores hipocondríacos do Brasil. Por e-mail (ele achou melhor nessa época de gripe suína evitar o contato), ele revelou algumas de suas preferências que nos ajudam entender como pensam.

Nome: Thomas Chagas
Profissão: médico ama-dor
O que lê no momento? A bula do Tamiflu.
Melhor filme: Nenhuma produção ainda superou Psicose.
Pior filme: Cantando na Chuva. Chega a dar arrepios.
Música: O pulso, dos titãs. Uma obra-prima.
Local preferido para fazer amor? Uma maca
O que costuma falar depois do sexo? Foi ótimo! Chegou a me dar taquicardia.
Signo: Câncer
Animal de estimação: Condor
Cor preferida: Amarelo (pálido)
Vício: Álcool (em gel). Estou consumindo sem moderação.
Time de futebol: Agora sou porco! Palmeirense doente!
Uma frase: “É melhor prevenir. Mas remediar também tem as suas vantagens”

***
Pode ser impressão minha, mas depois que recebi o e-mail dele com as respostas, não é que meu computador ficou meio esquisito. Será que entrou vírus?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Quadrilha

Para dar um pouco de estética à temporada feia em que estamos passando, segue um momento poético.

Senhoras e senhores, com vocês uma releitura do poema Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade:

Calheiros abandonou Collor,
Que maldizia Sarney,
Que nunca foi companheiro de Lula.
Que perseguia os 300 picaretas,
Que adoravam messalinas* e mensalões,
Que eram bancados pelo governo,
Que tinham campanhas financiadas pelos banqueiros,
Que amavam a política econômica do PSDB,
Que era exorcizada pelo PT

*
*
*

20 anos depois:


O PT imitou a política econômica do PSDB,
E agora é amado pelos banqueiros,
Que financiam campanhas para o governo
Que bancam messalinas e mensalões,
Que são adorados pelos 300 picaretas,
Que são protegidos por Lula,
Que é companheiro de Sarney,
Que tem o apoio de Collor,
Que recebe a ajuda de Calheiros


A única coisa que consigo entender desse poema é o título: Quadrilha.

***

Nota: De acordo com minhas profundas pesquisas (leia-se: Wikipedia), Valéria Messalina, mulher que deu origem a expressão, era filha de um aristocrata chamado Marco Valério. Nunca foi tão fácil ligar o nome à pessoa.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ditos populares - um desabafo

Quero saber quem deu aos ditos populares o poder de sentença final. Com eles, ninguém precisa mais se dar ao trabalho interpretar um fato, argumentar e contrapor de forma razoável. Basta dizer uma dessas frases feitas e... Pronto: questão resolvida.

Marido: “Amor, por que está chateada comigo?”
Esposa: “Para bom entendedor, meia palavra basta”

Resultado: ela venceu a discussão e você vai se sentir culpado até a menstruação dela descer.

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Para reforçar a tese, alguns creditam a frase à memória de alguém:

Neto saudoso: “Como dizia meu falecido avô: ‘cão que ladra não morde’”.

Como se apenas o avô dele falasse isso. Dessa situação, tiro duas conclusões. Esse senhor passou a vida inteira sem ser mordido por um cachorro e sem saber o que estava dizendo. Eu já foi mordido três vezes e garanto: os cachorros latem antes de morder. É verdade.

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Em Brasília, essas frases se proliferam tanto quanto funcionário no Senado. Quando tudo parece contra seus atos, sejam eles secretos ou escancarados, os políticos se defendem como se os ditos fizessem parte da constituição.

Senador cara-de-pau: “As aparências enganam”

Depois, ao pedir que se esclareça o nosso suposto engano, vem o arremate:

O mesmo senador cara-de-pau: “A fala é de prata e o silêncio é de ouro”

E como eles gostam de ouro, vocês imaginem o tamanho do silêncio.

Dizem que a última frase que se escutou por lá foi a resposta de José Sarney sobre a contratação do namorado da neta:

- A família é a base da sociedade.

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Na verdade, eu só queria olhar para a posição do Fluminense na tabela do campeonato e acreditar em apenas um desses ditos populares. “Os últimos serão os primeiros”. Mas tá difícil.