quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Futebol Moderno

O moleque estava nervoso. A partida ia começar.

 - Pai, estou esperando este jogo desde que eu estava com 7 anos.

Ele fez 8, há 4 dias.

Eu também era assim com futebol. Tão vidrado que tomei uma madura decisão aos 12 anos. “Escutar jogo pela rádio é angustiante, quando tiver um filho, ele vai comigo a todos os jogos no Maracanã”.

Agora que ele está adorando futebol, chegou a hora de cumprir a promessa.

- Vai se arrumar que te levo ao jogo.

- Obaaaa!!  Vamos pra Madrid!?!?!?

E então veio a expressão simbólica de como ainda estou preso na década de 80:

- Cuma!?!?! (Mocó, Didi – Vida e Obra)  

Ele é PSG. O jogo seria entre Real Madrid e o time de “Neymito”. Ele nem sabe qual campeonato o Fluminense está jogando, nem o motivo de não existir mais o Maracanã. Do Flamengo, ele falou que se lembra só do Muralha e riu.  O deboche ainda me deu uma esperança.

- E na escola? Gabriel é tricolor ou flamenguista?

- É Barça! Laurinha é Real, Arthur é Juventus e João Pedro é PSG também. Igual a mim.

O jogo começou e ele dizia o nome de todos os jogadores. Pronunciava melhor do que eu.
Via o jogo e me dei conta que finalmente estava assistindo a futebol. Isso despertou uma sensação que agora só com análise pra eu entender. Enquanto xingava os dirigentes ridículos por terem acabado com o futebol daqui, agradecia a concorrência desleal do futebol europeu e ao vício terrível dos joguinhos de vídeo game por colocarem a paixão do esporte mais próxima a essas crianças.

Minha única raiva que agora em vez de  ir ao Maracanã terei que dar um jeito de desembolsar muito mais para algum dia ir ao Parc des Princes e cumprir a promessa.


OBS: Quando o Marcelo fez terceiro gol do Real Madrid, os olhos de Daniel se encheram d’água.