sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Brasil x Israel x Palestina

Lula é um homem de ideias originais, como a de, por exemplo, copiar a política econômica do governo anterior. Mas essa de propor uma partida de futebol entre a Seleção Brasileira e um Combinado Israel/Palestina, nosso presidente fez sem pensar (Só dessa vez!). Acho que ele não imagina o risco que é este jogo diplomático.

Já que ele não imagina, imaginemos nós.

Tudo começaria pela escolha do técnico do Combinado. Seria Judeu ou palestino? Depois de muita discussão, chegariam a um acordo: não haveria um técnico, mas sim uma comissão técnica internacional, supervisionada pela ONU.

A convocação do Selecionado Israel/Palestina seria outra grande negociação. Negociação mesmo. Como o jogo despertaria a atenção mundial, uma grande empresa de Nova Iorque patrocinaria o evento, mas sob uma condição: o Combinado teria que ser formado por 6 judeus e 5 palestinos.
Os palestinos, é claro, protestariam. Alguns seriam radicais e acusariam os EUA de querer, aos poucos, expulsar o seu povo do Combinado e transformar o time apenas na Seleção de Israel.

Mas Lula é o cara. Ele resolve o problema de forma simples. As seleções iam entrar em campo com apenas 10 jogadores. Para convencer Dunga foi fácil: “É só tirar o Gilberto Silva que ninguém vai notar”. Difícil foi fazer o presidente da empresa americana, que tinha um grande número de acionistas judeus, desistir da ideia de jogar com 6 israelenses e 4 palestinos. Foi preciso a apresentação de um slide do pessoal do marketing, informando que a medida poderia manchar a imagem da empresa. 5 palestinos e 5 judeus seriam algo mais rentável. Afinal, é preciso atingir também o mercado palestino. Qual judeu quer perder negócio?

Outras confusões menores aconteceriam, mas seriam, facilmente, contornáveis. Como a oração que os jogadores fazem antes de entrar em campo. Lula persuadiria divinamente os atletas do Combinado a conversarem com Alá ou Jeová em particular. É mais íntimo.

A imprensa também receberia recomendações da ONU para evitar certas expressões. O locutor Sílvio Luiz teria sua frase “Pelas barbas do profeta” censurada. Já o narrador que dissesse “Olha a bomba”, no momento de um chute, no fim do jogo, teria que explicar melhor o que realmente viu naquele exato momento.

Entre as duas seleções, o único problema seria na hora do cara e coroa. O Brasil ganha na moeda, mas os palestinos querem jogar no lado do campo que aponta para a direção de Meca. Como Dunga não tem o costume de ser agradável, o Brasil se nega a mudar de lado. Até que surge um cartola brasileiro. Ele conversa com o adversário, sai com a moeda do cara e coroa no bolso e com a ordem para o Brasil jogar do outro lado.

No jogo, surge a maior de todas as questões. Os jogadores israelenses afirmam que a grande área é um território sagrado dos judeus e não deixam os palestinos entrarem. Argumentam que há, inclusive, indícios de que alguns dos jogadores palestinos (não todos!) teriam o interesse de fazer gol contra, apenas para prejudicar a defesa que é toda formada por israelenses. O ataque é de palestinos. Bem, essa era a escalação no papel, porque neste jogo ninguém nunca soube dizer, de verdade, quem ataca e quem defende.

Enquanto a comissão técnica internacional se reunia para decidir como resolver aquele impasse da grande área, Adriano seguia fazendo gols e, nas comemorações, homenageava a Vila Cruzeiro.

No fim partida, de um lado, o patrocinador vibrava com a alta das ações da empresa, após o evento. Do outro, palestinos e israelenses trocavam acusações pela derrota. Para por fim àquele mal-estar, Lula conversou com o artilheiro brasileiro e teve outra ideia: um churrasquinho na laje do Adriano, lá na Vila Cruzeiro, para confraternização. Lula só iria buscar a Dilma para apresentá-la aos moradores como mentora do PAC (Pela Animação do Churrasco).

E assim, quando desse um intervalinho no pagode, judeus e palestinos iriam olhar a favela carioca e se perguntar: o que é pior? Quando a terra é de ninguém ou quando a terra é de todo mundo?

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Nossos tantos muros

O tempo, quase sempre, é irônico. Quem imaginava que quando Pedro Bial apareceu, em 89, em frente ao Muro de Berlim, estaria cobrindo o primeiro de seus muitos paredões? O fim do comunismo estava sendo celebrado pelo futuro senhor “Big Brother”, expressão que, na verdade, surgiu no romance 1984, de George Orwell, para designar o ditador que promovia o excesso de vigilância do Estado.

Ora, nada é tão controlador como o Estado comunista. E nada é tão redentor como ver o fim deste controle ser noticiado por alguém que comandaria os Big Brothers. Mesmo que seja de forma metafórica.

Eu não sei se em uma das tantas noites de eliminação do Big Brother, o Bial, com sua impostação poética e charmosa, já fez alguma referência ao Muro de Berlim. Mas o fato é que o reality show da TV Globo tem pontos em comum com aquele momento histórico. Bem, e se não tiver, eu forço a barra para que tenha e salvo meu texto.

Ao ultrapassar os muros da casa, temos o impulso de dividir os participantes em duas turmas. Geralmente, o grupo do bem e o do mal. Sempre é difícil julgar quem pertence a cada categoria. Já o Muro de Berlim dividia, simplesmente, o mundo entre dois sistemas. Agora, pensemos numa casa onde, de um lado, estariam Stalin e Fidel, calando e fuzilando seus adversários. Do outro, Kennedy e Bush, patrocinando golpes, produzindo terroristas, promovendo guerras e fomentando a indústria bélica. Qual seria a turma do bem e a turma do mal? Quem você gostaria de eliminar? Ligue, participe!

Outro ponto é a assistência que a produção do Big Brother fornece aos participantes. Do lado de dentro do muro, eles têm direito a alimentação, segurança, conforto etc. Em troca, perde-se a liberdade. Dizem que em Berlim Oriental era assim. O cidadão tinha direito a educação, saúde e emprego (conforto já era demais. Isso é coisa de capitalista!). Mas se quisesse dar aquela espiadinha do outro lado, era eliminado. Fuzilado mesmo no paredão.

Os muros do Projac e de Berlim me dão a sensação de que o ser humano aceita se confinar numa casa em busca de seu sonho. Seja o sonho de um milhão de reais ou dos 15 minutos de fama. Mas não se confina numa cidade em troca da garantia de necessidades básicas. Assim, torna-se capaz de destruir muros reais ou imaginários para ir atrás de seus desejos, nem que seja a promoção nº1 do McDonald´s.