terça-feira, 27 de abril de 2010

Yes, nós temos TOC

Se fosse possível personificar alguma doença, o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) seria uma espécie de político que vive prometendo que todo o tormento que estamos passando é para o nosso próprio bem.

Mas Diógenes era o tipo de alma que acreditava em políticos. Pior: acreditava em promessas de político. Tanto que até hoje tem a esperança de ver corrigida a poupança confiscada no plano Collor. Já se passaram 20 anos e toda vez que vai consultar seu saldo, Diógenes continua repetindo baixinho, várias vezes, as mesmas palavras: “Não me deixem só!”. Nunca respondeu se o que diz é devido ao antigo jargão do Collor ou se é abreviação da frase completa que seria: “Não me deixem só...COM ISSO!”. Bem seja como for, seu ritual não trouxe nenhum resultado. Ainda. O “ainda” é por minha conta. Preciso confessar: também tenho TOC.

Só que o TOC de Diógenes tem algo mais sublime do que o meu. Para ele, suas manias vão salvar o mundo. Essa é a sua missão. Aliás, não é apenas uma missão. É uma redenção. Precisa reparar um erro histórico. Em 98, devido a uma terapia para vencer seu TOC, foi dormir, na véspera da final da Copa do Mundo, com o cabelo despenteado. Deu no que deu. Ronaldo se sentiu mal, Zidane não sentiu pena e a gente se sentiu péssimo.

O terapeuta até hoje não entendeu quando Diógenes apareceu no consultório com um alicate querendo arrancar o mamilo dele (do terapeuta claro! Não o dele mesmo. Ele tem TOC, mas não é louco). O psiquiatra apenas classificou o fato como “surto agressivo em virtude da abstinência de rituais”.

Depois da tentativa de vingança, Diógenes passou quatro anos se preparando. Inventou vários e originais TOCs para reverter a falha de 98. Em 2002, veio o resultado. Depois de ele cumprir todos os seus rituais, a Seleção venceu os 7 jogos da Copa. Se orgulha até hoje de ter dado a dica para o Ronaldo aparecer com o cabelo cascão naquela final. “Se não foi isso, sei não”.

Diógenes sabia que podia ir além do esporte e alcançar um feito maior. Assim, começou seu ritual para salvar o mundo. Pesquisou qual TOC seria a senha mágica para despertar o primeiro passo: A paz no Oriente Médio!

Não era muito complicado. O raciocínio era o seguinte: a maioria dos palestinos é muçulmana, religião que tem como dia sagrado sexta-feira. Sexta-feira... Sexto dia da semana... Anotou o número 6. Para os judeus, a data santa é sábado. Sábado...Sétimo dia da semana.... Número 7. Às vezes, eu ficava em dúvida se Diógenes tinha TOC ou se era numerólogo.

Mas enfim... O plano era claro e óbvio (por que ninguém havia pensado nisso?). Para unir os dois povos, bastaria unir os números dos dias sagrados. Deu 67... Sendo 6+7=13. E esse é o número de quem? De quem? De Zagallo, o técnico que “teve que engolir” os 3 a 0 para França na Copa de 98. Por culpa de quem? De quem? Do descaso de Diógenes. Promover a paz entre judeus e palestinos com o número 13 era uma homenagem a Zagallo, uma maneira de recompensar o que fizera ao Velho Lobo.

Foi assim que passou a repetir todos os seus gestos 13 vezes. Os resultados estavam demorando, mas a visita de Lula ao Oriente Médio acendeu Diógenes de esperança.

-Ele é o cara. Já praticamente resolveu o problema do apagão, da saúde pública, da guerra do tráfico... Então, deixa a Faixa de Gaza com ele. Rapidinho, Lula dá um jeito. Vamos comemorar.

E saía eufórico imitando o aviãozinho de Zagallo (lembram?). Fez, claro, 13 aviõezinhos. Não temia ser ridicularizado. Sabia que salvar o mundo tem seu preço. Lamentava apenas a perda dos amigos que morreram quase todos de cirrose ao tentarem acompanhar as sempre 13 doses de Diógenes na mesa do bar.

-São mártires – dizia com orgulho e os olhos cheios d’água.

A solidão só não foi pior porque conheceu Wasleka, a ninfomaníaca que, ao saber do TOC de Diógenes, encontrou seu homem perfeito. Hoje, mesmo com as olheiras profundas, ele se arrasta satisfeito para o 13º sexo do dia. Tudo em nome da paz mundial.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Chuvas de Abril

Toda vez que há uma catástrofe provocada pela natureza, surgem os profetas anunciando o fim do mundo. De tanto palpite, um dia eles acabam acertando.
- É bom se preparar, meu filho, o apocalipse chegou! – disse um senhor de uns 70 anos, conhecido meu.
- Ué, mas não era você mesmo que tinha a certeza que o mundo iria acabar em 2012?
- Então, as prestações começaram.

Pensei: enchentes, desabamentos, mortes... Êta juros altos!

Não sei ao certo o que conseguiríamos evitar com uma política de prevenção séria. A quantidade de chuva foi enorme e poderia até ser imprevisível. O que não pode ser surpresa é a Defesa Civil descobrir só na hora da tragédia que a favela foi erguida em cima de um lixão.

Não adianta dizer que a culpa é apenas da população por construir casa em áreas de riscos. Qual a alternativa que se tem? Há uma política de habitação? Caso haja, está integrada a uma política de transporte, para que essas pessoas cheguem aos locais de trabalho, escolas e hospitais. Suspeito que é mais imprevisível o dia em que tudo isso funcionar do que outra chuva dessas.

Previsível (e triste) é o governo do Rio receber propostas de ajuda de outros estados e argumentar que, por enquanto, não é necessário. Ora, se não é necessário, por que é a população que está ajudando a remover os escombros à procura de sobreviventes e corpos? Fazendo isso, claro, sem nenhum preparo e segurança. Negar a oferta dessa ajuda é apenas uma tática simples e óbvia de passar a ideia que está tudo sob controle. Ou seja, além de bom senso, falta criatividade para os governantes.

Não sei se o velhinho amigo meu está com a razão e o apocalipse já está acontecendo. Mas que há algumas bestas aparecendo por aí, isso há.