sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Nossos tantos muros

O tempo, quase sempre, é irônico. Quem imaginava que quando Pedro Bial apareceu, em 89, em frente ao Muro de Berlim, estaria cobrindo o primeiro de seus muitos paredões? O fim do comunismo estava sendo celebrado pelo futuro senhor “Big Brother”, expressão que, na verdade, surgiu no romance 1984, de George Orwell, para designar o ditador que promovia o excesso de vigilância do Estado.

Ora, nada é tão controlador como o Estado comunista. E nada é tão redentor como ver o fim deste controle ser noticiado por alguém que comandaria os Big Brothers. Mesmo que seja de forma metafórica.

Eu não sei se em uma das tantas noites de eliminação do Big Brother, o Bial, com sua impostação poética e charmosa, já fez alguma referência ao Muro de Berlim. Mas o fato é que o reality show da TV Globo tem pontos em comum com aquele momento histórico. Bem, e se não tiver, eu forço a barra para que tenha e salvo meu texto.

Ao ultrapassar os muros da casa, temos o impulso de dividir os participantes em duas turmas. Geralmente, o grupo do bem e o do mal. Sempre é difícil julgar quem pertence a cada categoria. Já o Muro de Berlim dividia, simplesmente, o mundo entre dois sistemas. Agora, pensemos numa casa onde, de um lado, estariam Stalin e Fidel, calando e fuzilando seus adversários. Do outro, Kennedy e Bush, patrocinando golpes, produzindo terroristas, promovendo guerras e fomentando a indústria bélica. Qual seria a turma do bem e a turma do mal? Quem você gostaria de eliminar? Ligue, participe!

Outro ponto é a assistência que a produção do Big Brother fornece aos participantes. Do lado de dentro do muro, eles têm direito a alimentação, segurança, conforto etc. Em troca, perde-se a liberdade. Dizem que em Berlim Oriental era assim. O cidadão tinha direito a educação, saúde e emprego (conforto já era demais. Isso é coisa de capitalista!). Mas se quisesse dar aquela espiadinha do outro lado, era eliminado. Fuzilado mesmo no paredão.

Os muros do Projac e de Berlim me dão a sensação de que o ser humano aceita se confinar numa casa em busca de seu sonho. Seja o sonho de um milhão de reais ou dos 15 minutos de fama. Mas não se confina numa cidade em troca da garantia de necessidades básicas. Assim, torna-se capaz de destruir muros reais ou imaginários para ir atrás de seus desejos, nem que seja a promoção nº1 do McDonald´s.

3 comentários:

  1. Adorei! O primeiro parágrafo me acordou, você fica pensando essas coisas ou elas te assaltam, de repente?!
    Beijos,
    Elis

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  2. Até que eu queria, Elis, que essas coisas viessem de assalto. Mas as danadas só chegam através de um parto.

    bjs e valeu pelo comentário.

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